14.1.15

As tuas mãos

Tens as mãos fortes. Os teus dedos não são longos nem esguios. São dedos banais, nada de especial ocorre para os descrever, nada assinalável para os caracterizar. Mas são os teus dedos. Esses dedos com que percorres madeixas do meu cabelo, que enrolas e desenrolas ao sabor do teu capricho mesmo sabendo que me irrito sempre com isso. Sorris e insistes nisso. Repreendo-te, digo que fazes nós. Tu ignoras.
Sempre gostei de mãos. São elas que guardam as maiores e melhores histórias do que todos somos. É nas mãos que temos a ação, a condução, o modo de agir. A cabeça e as emoções só as seguem. As mãos são o nosso impulso. Aquele que agarra numa fração de segundo uma inesperada queda. Aquele que ampara num ombro uma cabeça que adormece. O que por vezes nos empurra para o saudável desconhecido.
Antes mesmo de sermos elaborados pensamentos e amontoados de desejos somos as mãos que temos. São elas que levamos à boca quando temos sono e fome e ainda nem sabemos que mundo é este que nos acolheu. A mão que embala o berço é a mão que comanda o mundo. Esquecemos, mas não saímos impunes.
As tuas mãos são fortes. São banais e róis as unhas, mas há dias em que seguram a minha cabeça como se com elas dissesses todas as coisas que a maioria das vezes calas. As tuas mãos falam. Eu oiço. Mesmo quando com elas percorres as madeixas do meu cabelo e me contrarias.