16.10.14

O avesso dos dias

Para lá da porta há sempre um espaço que é único. Para trás fica a rua, as gentes com quem nem sempre te apetece cruzar, a pior das rotinas a que te é imposta, os ruídos, os atropelos, os desencontros, as caras fechadas, o frio ou o vento que nem sempre te apetecem abraçar. Para lá da porta, do lado de dentro, há só tu ou nós, há aromas que só tu reconheces porque são teus, a essência perfeita que resulta dos banhos, dos perfumes, da roupa da tua cama, das alfazemas e sabonetes que têm as tuas gavetas, do teu ph e do teu adn. Há uma claridade que sabes que vem de ti, das cores que escolheste para te receber todos os dias. Há a nostalgia de alguns dias misturada com a alegria de outros. De vez em quando há vozes e risos. De vez em quando há silêncios momentâneos e em certos dias há silêncios profundos. Há a luz indireta dos teus candeeiros e a quente das tuas velas. Há a espessura dos teus edredons e dos teus turcos e um cheiro que te conforta num banho de espuma. Há a textura das tuas paredes, as confidências que só elas sabem e os seus inúmeros amparos.
Para lá da porta há sempre um espaço que te recebe e que é o verdadeiro mundo. Aquele que desenhaste milimetricamente para quando fechas a porta deixar do lado de fora o avesso de ti.

7 comentários:

  1. gostei muito deste texto, margarida.

    beijo :-)

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  2. Ler este texto é mesmo como passar para lá da porta. Da minha também. Lindo.

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  3. perfeito texto :-) apetece ficar por aqui e ler todo o resto :-)

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  4. Mais uma rendida à berleza das tuas palavras:-)
    Beijinho

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  5. E dizer que me revi em cada uma das tuas palavras, seria pouco. Muito pouco.
    Obrigada por mais este texto, Margarida ♥

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  6. Muito obrigada a todas!
    Quando na partilha, nos sentimos em casa, só pode ser uma coisa boa :)

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