27.7.14

Sabor a férias no Caramulo. Reeditado.


Há uns anos, durante muitos e muitos anos, havia uma casa de granito que a frondosa e robusta hera abraçava. A hera era a casa de muitos pássaros que nela escondiam o lar a que chamamos ninho. A casa era uma casa com história que construiu parte da história da minha vida. De manhã, a casa cheirava a cera acabada de passar na tijoleira vermelha e lustrosa que cobria o piso de cima. Do lado de fora, quando abríamos a porta, o dia cheirava a bucho, a cedro, a hortelã silvestre e a relva molhada. Ao pequeno almoço havia pequenas vieiras em porcelana da Vista Alegre recheadas com mel e doces caseiros. Depois do pequeno almoço, descíamos o caminho traçado pelas lajes de lousa, emoldurado pelo verde do cuidado jardim e protegido pela sombra das imponentes árvores. Lá em baixo, havia uma pedra grande que em sonora alegria renovava a fria água da piscina onde mergulhávamos. E havia um pequeno riacho, a que descíamos, usando da habilidade que a experiência nos fora dando para fugir às urtigas, e onde apanhávamos pequenas rãs. Durante a tarde, para fazer a digestão, íamos muitas vezes apanhar amoras. Mais tarde, ao fim do dia, quando o corpo cansado dos mergulhos repousava, íamos dar um passeio até ao tanque da casa que tinha o milharal. De lá, trazíamos oferecidas as maçarocas de milho verde que eram escolhidas a dedo, depois de muitos dedos de prosa que ecoavam na estrada deserta, por entre o coro do fio de água indiferente à nossa presença e o porco que grunhia, lá mais adiante.

Ao jantar, da cozinha vinha truta grelhada, carne com um sabor diferente do da cidade, generosas tigelas cheias de papos de anjo, as amoras lavadas, libertas do pó do Verão, e as maçarocas, assadas, que comíamos à mão.


Hoje, com manteiga aromatizada com gengibre, raspa de limão e funcho fresco. E no final um sorriso enorme, misto de saudade e prazer.

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