31.1.12

Dos momentos dificies

Isto da vida não andar fácil não nos dá paz. E eu, que sou uma mulher de paz, gosto dos dias de serena luta. Gosto das incertezas e dificuldades a que chamo desafios. Gosto de obstáculos como gosto de muros. Para subir, descobrir e contemplar o que está do outro lado. Mas não é disso que a vida se tem feito nos últimos tempos. Ultimamente faz-se de impasses, inércia e paz podre. Faz-se de vai-se andando. De amanhã logo se vê para que lado acorda o destino.  Isto tudo fazendo a minha parte e tendo de aguardar que o resto se cumpra. Seja que resto for. E é isso que tem feito com que não ande fácil. Porque sou temperada, mas não sou morna. Porque gosto de cozinhar a vida, mas não gosto de banho-maria. Porque não gosto de extremos mas não sou assim-assim. Mas isto da vida não andar fácil não quer dizer que ande difícil. Andar difícil é outra coisa. Andar difícil é levarem-nos um filho e não deixarem rasto. É assistir impotente a uma doença grave e dolorosa de alguém que se ama. É acordar todos os dias debaixo de fogo cruzado. É adormecer sabendo que no dia seguinte não se terá mais uma vez o que dar de comer aos nossos. Não andar fácil não é o mesmo que andar difícil. Andar difícil é outra coisa. Das coisas difíceis da vida não me posso queixar, graças a Deus. O resto, o  resto o tempo compõe. Haja paciência. E saúdinha! [coisas com que a vida me dotou, á fartazana!]

...

30.1.12

Os momentos dificeis


Os momentos difíceis são particularmente especiais. E ricos. E promissores.
Os momentos difíceis fecham portas mas abrem janelas. Geram oportunidades. Mudanças. Recomeços. Coisas novas.
Os momentos difíceis doem, magoam, sangram. Mas também saram e curam e terminam. É com eles que aperfeiçoamos a arte de lamber as feridas.
Os momentos difíceis fazem parte da vida. Põe-nos á prova. Fazem-nos conhecer melhor os nossos limites, o nosso ADN e o nosso nome.
Os momentos difíceis fortalecem. Estruturam. Esclarecem.
Os momentos difíceis são cruciais para as grandes decisões.

Ontem deixei de fumar.

28.1.12

27.1.12

Always follow your heart



As histórias de vida são como uma estrada em constante construção. Por vezes feitas de rectas, onde a paisagem se repete sem sobressalto e onde podemos simplesmente aproveitar a viagem e desfrutar do caminho. Por vezes com curvas apertadas, que subitamente surgem no trajecto, sem sinal ou aviso prévio e nas quais só a perícia do condutor ou a sorte da ocasião evitam o acidente. Outras ainda em que nada ou ninguém consegue antecipar ou evitar um desfecho menos desejável.
Há caminhos bem assinalados, cheios de placas que identificam os locais de passagem ou os da direcção em que vamos ou desejamos seguir, outros, ao contrário, que parecem plantados num deserto e levar a lugar nenhum. Nuns e noutros, quase sempre cabe a quem os percorre decidir se segue as indicações ou se quer arrepiar caminho. Sim, porque mesmo no deserto há indicações. O universo está cheio de estrelas-guia.
Por fim, há os caminhos que se atalham e outros que se fazem obstinada, serena, irracional ou conscientemente até ao fim. E o melhor da vida talvez seja tudo isto ao mesmo tempo. A capacidade de decidir o que está ao nosso alcance e a humildade de aceitar que a vida raramente corre como a planeamos. 

Há pouco, por causa do post anterior, redescobri este texto, escrito por mim em 31 de Julho de 2009. 
Não é por nada - seria por muita coisa se acreditasse em acasos - mas sorri.

Ousar educar para o Amor


Quem me conhece ou quem me lê por aqui regularmente, sabe o quanto sou fã de Eduardo Sá [que já tive o privilégio de entrevistar, ah pois é, e embora não interesse nada para o caso, ás vezes tenho uma pontinha de mete nojo] e ainda este Natal recebi de presente mais um dos seus livros que, estou certa, a ocupação das horas dos muitos dias que se seguem me permitirá ler mais depressa do que contava...

Outra coisa de que sou fã é de blogues de pessoas de bem com a vida [apesar dos dias menos bons e das dificuldades do dia a dia], que além de escreverem bem têm para lá de uma imensidão de bom gosto. É o caso do 4D, da Duchess, que para além disso faz o favor de ser uma querida, fora da blogosfera, nos bastidores da minha vida.

Ousar educar para o amor é tudo o que defendo. Começando pelos filhos, mas não só. 
Costumo dizer que Eduardo Sá fala do avesso para o direito, caracteristica que não só adoro como admiro, mas que nem sempre o faz ser corretamente compreendido. Apesar de tudo, no texto publicado neste post, não podia ser mais claro. Por também eu ser, e já o ter dito por aqui muitas vezes, uma otimista em relação á oportunidade que esta crise nos reserva para redespertar para o essencial da vida, subscrevo-o, na íntegra.

P.S.

25.1.12

Step forward


O Tempo, meu querido e ancestral amigo Tempo, como há muitos anos carinhosamente lhe chamo, na sua incomensurável sabedoria traz sempre a resposta que necessitamos. Quando ela chega, pelo menos para mim, não existe sombra de dúvida, mágoa ou receio de tomar a decisão que deve ser tomada. Nesse momento, a clarividência, até então toldada pelos dias nublosos, surge em toda a sua dimensão e força. Tudo fica claro. Muito, muito claro.

Hoje, atravessei a margem. Caminho agora em direção ao sonho. Tenho finalmente a certeza que faltava de que é do outro lado que vai valer a pena. Porque de olhos fechados caminha-se sempre que se acredita sem ver. E eu acredito. Há momentos em que acredito mesmo muito, em mim e no que projeto para o futuro...

Chegou o momento. O passo necessário está dado. Começo amanhã um novo caminho. Onde me leva?... Não sei! Mas digo-o sorrindo e conjugando o meu verbo-oração preferido: Eu Acredito.
Lado a lado caminham a fé e a Luz que iluminam os meus passos.

24.1.12

P.S*



*porque todos temos uma missão

... sem nome [continuação]




Sabes como é quando ficamos assim com o coração pequenino, feito de palavras mudas, cheias de medo e assustadas, sentadas num recanto da alma a pedir que venham dias bons?... Pois, estou assim. Já veio a tarde, a noite e novamente o dia e ainda aqui estou, neste monte que desenhei no horizonte para vir ao teu encontro.

Dizem-me que vai passar depressa tudo isto. E quem me disse disse-o com aquele sorriso das pessoas que sabem das coisas que se escrevem para além da vida. Sabes, aquele sorriso sábio e sem dúvidas que te apazigua?... E eu também o sinto, nem sei porquê, mas sinto, mas depois o coração volta a ficar pequenino, apertado, a saltitar, de um lado para o outro, como um pardal aprisionado e irrequieto, desejoso de voltar a voar.

Sabes, tenho pensado muito em tudo isto, e nos desenhos que faço. Estou quase uma arquiteta. Já passei dos esboços, a coisa já tem alicerces e bases bem fundeadas. Sabes como sou com os detalhes, já pintei as paredes e tudo… Ando aqui de um lado para o outro na azáfama destas obras. Está quase pronta a empreitada.

Isto tem muito de barro. Aquele de que somos feitos. Sabes do que falo. Sim, sabes bem que somos barro e ao mesmo tempo as mãos que o moldam. Somos criadores e criativos. Respeitamos os contornos mas com eles através de nós nascem novas formas. E que originais são, meu amor. São feitas de sol. Temos sol dentro. Tu sabes.

Por sol, hoje o tempo está menos solarengo. As nuvens do outro dia tomaram conta do azul. Faz um pouco mais frio e olho em volta para ver se te descubro a vir ao meu encontro. Vejo-te a pegar na manta grossa que deixei em cima do sofá. Gosto sempre de deixar uma manta pousada sobre um dos braços. Gosto de ter á mão um aconchego para te poder tapar quando adormeces por lá. Gosto tanto de te ver dormir. Gosto daqueles dias em que acordo primeiro que tu e fico a olhar-te, perdido nos sonhos. Quase nunca te mexes, sabes. Mesmo durante a noite, sim. Ficas assim de um lado só e quase sempre virado para mim. É tão bom fazer festas no teu cabelo. Ficas assim um menino pequenino entre os meus dedos.

És o único território onde me desejo sempre e para sempre perder. Foi nele que encontrei a parte que me faltava.




White is a peaceful place to live & love | 22

23.1.12

Dos dias diferentes

Para garantir a subsistência da sua vida e de alguns dos seus bens básicos, a A. decidiu tirar a filha do colégio para coloca-la no ensino oficial e ir viver para casa dos sogros para poder arrendar a sua casa a estudantes. A A. tem 45 anos anos, um emprego onde ganha o suficiente para uma vida regrada e é casada com um arquiteto vitima da falta de trabalho na sua área.

Para evitar a penhora de bens devido a um negócio mal parado de um familiar, que não teve sequer a amabilidade de avisar quem devia sobre a sua incúria empresária, a V. viu-se obrigada a pedir o divórcio do marido e pai da filha, com que é feliz e deseja continuar casada, e a ter de colocar á venda a casa que ambos sonharam e adquiriram há um tempo atrás...

Para que a família separada há um ano se voltasse a reunir e porque as coisas por cá não auguram bons dias, a A. (outra A.) partiu de armas e bagagens para Moçambique com os três filhos. A mais velha, apesar de adolescente e da pena de deixar para trás os amigos, foi a primeira a apoiar a mãe na sua decisão, com a certeza de que era a melhor para todos...


Estas são apenas três histórias que conheço de perto e que ilustram bem, muito bem, a elasticidade que o presente nos exige.
A vida mudou e obriga-nos a reinventá-la. O mais curioso é que não nos pede soluções novas, mas as antigas. Aquelas que já usámos e com as quais não só sobrevivemos ás tempestades da vida como conseguimos muitos e bons resultados a longo prazo.
A todos o que forem capazes de traçar novos rumos no meio destas adversidades estou certa que a vida trará a bonança merecida e recompensada.
Não desistir e ousar são, definitivamente, as palavras de ordem. Fechar os olhos e acreditar que se é capaz, o fio condutor de toda e qualquer mudança.
Acreditar em nós é o fundamental em tudo na vida. Não tenho a mais pequena dúvida do que digo.
E eu Acredito. Muito!

Colour your life*


Uma mensagem intemporal, pintada com a cor que mais desejo no meu futuro


*post reeditado

Sing me life


But I'm not gonna let them bend my view
I'm not gonna let them paint me blue
not this time, not any time,
I'm gonna sing me life
That's what I'm gonna do

Vamos?


Vamos pintar a vida de Amarelo. Vamos?... :)

Dear South

... no words or images to write you today...

21.1.12

Renovação


Arrumar, reorganizar, ter um olhar critico sobre o espaço, a sua ditribuíção, o que nele mantemos e o que nele já não nos faz falta... deitar fora o que já não serve, é, será sempre para mim a melhor forma de me organizar internamente. Nas gavetas e armários, como na vida, somos nós que decidimos o que que dispensamos por inutilidade ou incómodo. Só neste exercício se cria o espaço para acolher coisas boas, desejadas e novas. E eu sei que elas vêm a caminho. Eu sei que sim. E espaço não lhes vai faltar.

19.1.12

Sweet M.



Há dias em que as saudades apertam ainda mais que o costume. Saudades deste sorriso, da boa disposição que contagia, do apurado e sagaz humor, quando não mesmo mordaz. Da sua sensibilidade e atenção á vida. Da maturidade e inteligência emocional com que encara o dia a dia. Deste equilibrio e energia inesgotável. Deste otimismo. Da luz destes olhos. Do cheiro deste cabelo. Do quente desta pele... Desta extraoridinária companheira de viagem que a vida me ofereceu como filha.

God save my Queen!

Valha-me o sol

No inicio era o Verbo

Acreditar


Não há, de há muito tempo para cá, um único dia em que não seja necessário conjugar este verbo. E conjugar um verbo também pode ser uma forma de oração. Nos dias em que o coração aperta e as dúvidas aumentam, sussurro baixinho uma prece, na primeira pessoa do singular do tempo presente...
Eu acredito
Eu acredito
Eu acredito

Como era no principio, agora e sempre... tenho de Acreditar.




18.1.12

Osmose telepatia ou simplesmente cumplicidade

...sem nome




Talvez se desenhar um horizonte…

Imagino um monte, verde, seara por amadurecer, talvez. Sim, deve ser… porque se salpica de sangue em atiçadas papoilas que bamboleiam ao vento. Implacáveis sedutoras. Sinto a brisa. E o cheiro. Cheira a feno este cenário. Há também pequenas camomilas que cobrem com um perfumado manto nevado a encosta. Ouço vozes ao longe. Parecem crianças brincando mas talvez seja gente na monda. Mulheres. Mulheres jovens. Talvez isso… afastam-se e não confirmo. Fico imóvel, apenas a olhar a grande árvore. Apetece-me pendurar ali um baloiço. E pendurar-me nele em seguida. E balouçar, horas a fio, perdida do tempo. E de mim, certamente. Há um pássaro grande na árvore. Não, não é uma cegonha, que essas conheço bem. Não faço ideia do seu nome. Deve ter ninho recém feito. E crias vorazes, talvez. Quando estou assim falo sempre de coisas bucólicas...
Tenho que escrever assim, de impulso, porque não sei o que fazer com esta paisagem. Acho que a inventei apenas como refúgio da mente ou para evadir os dedos, de onde me escorre uma prosa sem morada. Acho que estou só á procura de um lugar seguro para me esconder á espera que o tempo passe. Há sol. A brisa é quente. Acho que há um mar perto… também me apetece azul.
Sento-me um pouco. É isso. Não, á sombra não, embora a árvore-mãe seja acolhedora. Mas quero sol, quero a pele quente e o abraço morno da brisa. Faltam-me braços. Falta-me a pele que se mistura em horas esquecidas. O teu sabor, amor.
Acho que aqui construía a nossa casa. Baixa, mas comprida. Com quartos bonitos para receber as nossas gentes. Estás a imaginar. Assim, tábua corrida, paredes brancas, janelas rasgadas. Apenas o essencial.
E depois fazíamos dos dias coisas fantásticas e as vinte e quatro horas seriam curtas para tantas coisas. Tantas coisas para fazer juntos, amor…
Deito a cabeça com medo que algum inseto atrevido se meta entre os cabelos mas suporto-a com o braço que dobro entre ela e o chão. Olho as nuvens. Poucas, são tão poucas. O eterno cliché de pedaços de algodão. E por algodão… não sei se gostas de algodão doce. Nunca te perguntei. Há tantas coisas que não sabemos um do outro… Mas deves gostar. És guloso.
Ah e os bolos! O cheiro a vir da cozinha e a tomar conta dos cantos da casa. Assim daqueles sem creme nem nada, sabes, só farinha, ovos, manteiga e a imaginação a juntar a gosto e a cozer em lume brando de emoção... 
Torradas! Sim, as torrdas. Aquelas que fazia pela manhã e barravamos com a compota que ainda nos escorria pelos dedos de tão fresca que estava... acordava-te assim aos beijos e era tão bom...
E depois chegava gente, muita gente, a nossa gente, e ficávamos demorados em conversas e tilintar de talheres deliciados sobre os pratos...
... as casas fizeram-se para nelas habitarem os sonhos...

Das saudades de escrever



Enquanto aguardo que o Tempo faça segundo a [sua] arte, seria uma benção conseguir voltar a escrever. Quem escreve sabe quão intensa é a vida das personagens dentro de si. Fica-se habitado de gente, gente que quer contar a sua história e se serve de nós, do dedilhar de palavras que saem não de nós, mas de si através de nós. E é isso que me falta. Falta-me gente que me habite. Tenho a alma devoluta de outras almas. Os que me habitam, e abençoada que me sinto pela vida esses são muitos, são os que me rodeiam, os que muito amo e que me estão próximos. Mas sobre esses não conto histórias. Esses fazem parte das páginas da minha vida. Leio-os em segredo e, ciosa do tesouro que são, guardo-os só para mim. Resta-me aguardar a tua visita, pássaro da alma.

White is a peaceful place to live & love | 21

16.1.12

Amor


A vida é um gigantesco cais de embarque, cheio de partidas e chegadas.
Não te atrases. Demora-te apenas no essencial.

Da adoção e da dificil arte de amar



Desde muito cedo - cerca dos meus doze anos, talvez - disse que um dia gostava de adotar uma criança. As razões eram simples: sabia o quão importante era para mim ter e crescer com uma família e considerava que era certamente muito triste que a algumas crianças isso fosse negado. Mais, teorizava eu  - por essa tenra idade, sim - que se cada familia que tivesse essa possibilidade o fizesse haveria certamente muito poucas crianças a crescer sem esse privilégio.
Cresci sem que a ideia nunca me tivesse abandonado. Á medida que os anos foram passando, sedimentei-a mais dentro de mim e cheguei a ter a certeza que a colocaria em prática. Aliás, chegou mesmo a fazer parte do projeto de vida familiar com o pai da M.
Independentemente de vir ou não a ter um filho biológico, sabia que não desejava adotar um bebé. Em primeiro lugar porque esses têm, por razões óbvias, maior probabilidade de um futuro em família. Em segundo lugar porque era importante que a criança que escolhessemos para filho ou filha nos escolhesse também. Acredito que, como em qualquer questão que envolve afetos, a entrega do coração é um ato de reciprocidade em que mesmo a filiação natural não é condição intrinseca, mas fruto de uma relação que se constroi e em que se investe todos os dias. Por estas duas razões fundamentais, a adoção seria sempre de uma criança a partir dos quatro ou cinco anos de idade. Dificilmente menos.
O facto de ter trabalhado muitos anos como advogada fez-me ter uma perceção mais alargada do que, de há uns anos para cá, significa adotar uma criança institucionalizada. Se há umas décadas atrás os célebres orfanatos tinham essencialmente crianças abandonadas á sua sorte ou entregues á porta da igreja por falta de condições económicas ou motivos de desonra e vergonha das suas progenitoras, o cenário das últimas décadas é já bem diferente. Uma boa parte das crianças que vão chegando de há um tempo a esta parte ás diversas intituíções de acolhimento são, numa assustadora maioria, crianças muito negligenciadas, quando não mesmo abusadas e maltratadas por aqueles que as deviam, em primeira linha e no mais básico instinto animal, proteger. São infâncias marcadas desde as mais tenras idades por inúmeros desconfortos, esmagadoras ausências e aterrorizadoras presenças. São crianças que facilmente a vida torna dificieis, assustadas e revoltadas. São crianças que trazem marcados na pele e na alma episódios que a maioria de nós prefere nem imaginar. São crianças que, cada vez em maior numero, chegam aos espaços que as recebem sem mãos suficientes e perfis adequadamente preparados para as acolher. 
No meu caso, não foi por esta mudança de cenário e esta tomada de consciência que a decisão de adotar foi ficando adiada. Mas estar mais próxima desta realidade foi decisivo na certeza de que este é um passo que só pode ser dado por pessoas bem estruturadas e com maturidade para a vida, o que, como bem se sabe, é ambição de muitos mas uma conquista de poucos.
Ontem á noite, uma reportagem da TVI dava conta do numero de crianças que são devolvidas antes da conclusão do processo de adoção. Não sendo novidade para mim este bizarro fenómeno, não deixa de continuar a causar-me perplexidade e indignação. Porque revela que muitos dos que desejam adotar não fazem ideia daquilo ao que vão e porque revela que o trabalho de casa - de quem em segunda linha devia cuidar, proteger e assegurar o bem estar e saude emocional destas crianças, depois dos primeiros terem falhado no desempenho do papel  - continua a não ser feito de forma responsável.
Tenho algum pavor a clichés e generalizações e esforço-me por não fazer uso deles na minha vida, mas a verdade é que me é dificil não associar, em muitos casos, a procura de crianças para adotar a mais uma variante do mercado de consumo. Ainda que, como tantas vezes acontece quando falamos do que não conhecemos profundamente, possa ser leviana e injusta, penso-o em relação a esta opção por muitas celebridades internacionais. Mas é fácil pensar o mesmo de muitos dos que se propõe adotar em Portugal.
Desejar um filho - e adotar não pode ser nem mais nem menos do que isso - não pode, não deve ser nunca um ato de preenchimento das nossas falhas narcisicas. Desejar e ter um filho só pode, sempre, ser fruto de uma escolha que se sabe que será, em qualquer circunstância, para a vida.
Os filhos, como qualquer grande amor, não vêm com manual de instruções. Não existem fórmulas mágicas que nos façam acertar em tudo na sua educação, assim como não existe nenhum xarope que se lhes dê ao pequeno almoço para que nunca nos desapontem. Mas é essa a essencia do amor incondicional. Quando se ama tudo é possivel e essa é a única magia [grande e real] que tudo salva e tudo compõe. 
Compreendo e acho absolutamente indispensavel que o processo de adoção contemple um periodo de experiência, de adaptação, o que lhe quiserem chamar. O que não faz sentido, por manifesto desajuste e atentado áquele que deve ser o cerne da intenção de adotar é que sirva - como num dos casos ontem relatados - para aferir resultados escolares, desempenhos de sucesso e vassalagem de afetos, destas crianças em relação aos interessados.
Por razões que não me são dificeis perceber, mas que me são impossiveis aceitar, uma boa parte dos pais de hoje vive ainda completamente orientada para a produção de executivos de sucesso e de gente que terá de ter garantido um emprego e uma vida proeminente, seja a que preço for, custe as dores emocionais que custar. Entopem-se crianças de atividades extracurriculares e explicações, definem-se horários de estudo rígidos ao fim de semana, escolhem-se os amigos pelas contas bancárias e apelidos dos respetivos  pais, compensa-se com todos os gadgets de última geração e uma generosa mesada no bolso e assim se fecha o negócio... com muitas e bem conhecidas repercursões a curto, médio e longo prazo. Não falo ao acaso, mas de casos de conheci na minha infância e outros que vou vendo repetir-se, impunemente 
Se já considero tudo isto grave na educação de um filho biológico, não tenho palavras para o qualificar num filho adotado.
Uma criança é, será sempre um investimento, mas do coração e não do abrir dos cordões á bolsa.
Não se deseja ou tem um filho para nos realizarmos no que não conseguimos - a não ser que esse desejo seja, para nossa felicidade, um desejo genuinamente coincidente de um filho. Não se deseja ou tem um filho para mostrar á familia e vizinhança que somos mais do que toda a vida nos fizeram sentir. Não se deseja nem tem um filho para exibir a folga financeira de lhe pagar colégio, faculdade privada e MBA´s no estrangeiro - como se faz com a celindrada do carro, os metros quadrados da casa e as marcas de roupa com que se desfila. Não se deseja nem se tem um filho para ocupar o lugar de quem nunca conseguimos que nos amasse.
Um filho, ou dito de outra forma, um ser humano que depende exclusivamente de um ato de vontade nosso e que não é tido nem achado no assunto nessa decisão, merece, sem dúvida o melhor de nós. Que isso represente, sempre que possivel, o melhor investimento financeiro na sua segurança, saúde, alimentação e educação é não só legitimo como desejável. O que não pode, ou no mínimo não devia, em qualquer circunstância, é ser motivo de contrapartida para o amor que se lhe tenha. Infelizmente sabemos que o é, em muitos casos, nas relações biológicas entre pais e filhos. Que haja a tentação de gente mal estruturada e cheia de boa vontade em fazer coisas boazinhas e ajudar pobrezinhos para gaudio próprio e exibição na rua onde são famosos (ou talvez não), também. Que o Estado se exima de fazer a sua parte é que, cada vez mais, me parece uma gravíssima ação por omissão.
Uma boa parte das crianças institucionalizadas não é fácil e a maior parte conjuga o verbo abandonar desde o dia em que foi gerada. Confiar é aquilo que lhes é mais dificil. Entregar o que não se recebeu um ato humanamente impossivel.
Escolher o caminho da adoção de uma criança com mais de três anos de idade é saber que se tem, na esmagadora maioria dos casos, pela frente um caminho moroso, feito de altos e baixos, com muitos avanços e ainda mais recuos. É um namoro que se enceta com alguém que mais do que não estar habituado, tem medo de amar e, mais uma vez, ser traído e abandonado.
Quem tem filhos biológicos sabe quantas vezes põe á prova os nossos afetos, a nossa paciência e a  capacidade de nos mantermos firmes nas nossas decisões. Sabe também quantas vezes choramos, de dúvida, raiva ou tristeza e choram eles também, pelos mesmos motivos, durante o caminho da relação. Mas ter um filho é tudo isso. E é tudo o resto. E é desejar e conseguir ir sempre mais e mais além.
Devolver uma criança que procurámos por decisão nossa, porque ela não nos fez, no prazo legal, sentir bem, felizes e realizados por praticar uma boa ação, só pode ser fruto de uma grande desorganização interna ou má formação. Supor que uma criança nestas condições está preparada para ficar incondicionalmente agradecida,  devolvendo com juros e sem prazo de carência ou dilatação tudo o que recebe de tão altruistas mecenas, é não saber nada da natureza humana nem do que representa o amor na vida. E todos sabemos que há gente que pensa e age assim. Claro que sabemos. O que não se admite é que quem tutela estas crianças faça delas laboratório de triagem, na esperança de com isso tornar os processos mais céleres. De boas intenções está o inferno cheio. Pena que não estejam também as prisões...


White is a peaceful place to live & love | 19

11.1.12

Não quero


Não quero virar costas, bater a porta, desistir, conformar-me simplesmente com resultados.
Não quero dias cinzentos, a falta do sol que me aquece dentro, o desnorte de não saber onde está o porto seguro quando o meu coração precisa de se esconder para se encontrar.
Não quero esta dúvida, esta inconsistência dos dias, esta chuva que não molha, este está quase, este futuro constantemente adiado.
Não quero. Não quero nada disto. Não quero mas não me rendo. Vergo mas não quebro, por maior que seja o cansaço. Só eu sei o que me dá, mais que força, resiliência, contra ventos e tempestades.

Da inconsistência dos dias e da falta que me fazes...


... foi por estas e por outras que Deus inventou o chocolate...

Please do not disturb


Em modo mau humor e ainda por cima constipada...
Sócios, não me distraiam que estou concentradíssima!

White is a peaceful place to live & love | 18

10.1.12

Sobre coisas prosaicas da vida que os dias não são só poesia e questões existenciais

Aos 41 decidi que era chegado o tempo de me deitar e levantar com o mesmo penteado e não me habilitar a causar traumas de infância em fins de dia de praia a crianças de tenra idade também aplicável a adultos mais impressionáveis. Vai daí eis que, depois de demorada ponderação sobretudo da carteira submeti a minha farta cabeleira [not!] a algo semelhante a ficção cientifica, que na prática é uma espécie de permanente, mas ao contrário. Dá a dita pelo sugestivo nome de progressiva que, como o nome indica, é coisa para levar o seu tempo...
Duas horas depois de me ter sentado na cadeira do martírio o que eu adooooro perder a vida no cabeleireiro, senhores ouvintes! e ter levado com as desgraças todas das infelizes da praça nacional, espanhola e inglesa que o que mais me falta são bons livros para ler, entre os que já tinha e recebi no Natal eis que a minha cabeça emerge das trevas para a luz e, desde dia 6 para cá, que não vive no alto do toutiço outra coisa que não sejam fios de cabelo escandalosamente lisos!
Confesso que aqui para a menina, que tem uma identidade muito própria e bastante aversão a tudo o que não pareça natural, a adaptação, ainda que sem mácula ou prejuízo da felicidade de acordar apresentável, tem sido como a dita... progressiva.
Ainda assim, entre mortos e feridos e alguns rápidos momentos de crise de identidade frente ao espelho, acho que depois de passar este efeito Maga Patológica, a coisa vai ao sitio.
Submetido que foi aos dois mais duros testes do algodão - secar ao ar INALTERÁVEL e levar com uma boa dose de humidade da noite SEM UM ONDULADO QUE SEJA QUANTO MAIS UM DESGOVERNADO CARACOL, sou tentada a dizer que a vida é quase perfeita! :)


Atravessar os dias




Há dias em que, por muitos pontos de referência que procuremos no nosso mapa interior é dificil perceber em que margem da vida devemos ficar. Se na que nos obriga a aguardar que tudo se desenrole por si e nos traga aquilo que desejamos e acreditamos que, apesar da espera vai chegar e valer [muito] a pena, ou na outra, naquela em que mesmo sem rede, sem certezas absolutas ou enormes perspetivas de sucesso a curto prazo, retomamos as rédeas e decidimos outro caminho.
Há dias em que [me] é particularmente dificil ficar de um lado da margem a sonhar o outro. Num impulso invade-me a vontade de atirar uma valente pedrada no charco, respirar fundo e, de olhos fechados, atravessar a ponte. De olhos fechados caminha-se sempre que se acredita sem ver. E eu acredito. Há momentos em que acredito mesmo muito, em mim e no que projeto para o futuro... mas, por razões que ainda não alcanço, alguma coisa me prende a este chão e me faz ficar deste lado da margem, a pagar para ver. Alguma coisa me diz que sou capaz e que vai valer a pena o esforço de não me mover. Only time knows...

White is a peaceful place to live & love | 17

O melhor das manhãs é reencontrar-te




9.1.12

Coisas que deixam um coração de mãe para lá de.... recompensado!*

Conversa telefónica, na semana passada:

Ela - ... mas já estás em Lisboa, mãe?...
Euzinha da Silva - Estou, filha. Liguei-te ontem para avisar, mas tinhas o telemóvel desligado.
Ela - Pois mãe, o telemóvel velho passou-se de vez e deixou mesmo de funcionar. Agora nem chamadas faz!
Euzinha da Silva - Pois filha, mas nesse caso já devias ter-me dado o numero do novo, não?...
Ela - Pois, mãe. Mas eu ainda não dei a toda a gente!


........ Yeah!
                   Right!.................


* se aos 12 anos eu estivesse no topo das suas prioridades para saber o novo numero, talvez fosse mais preocupante... digo eu!

Pessoas e lugares que me inspiram e que mesmo sem saber alimentam uma boa parte do meu futuro projeto de vida { 3 }



Muita, muita inspiração para este projeto... por aqui

White is a peaceful place to live & love | 16

Bom dia :)

5.1.12

Ora bem...


Vou ali preparar-me para fazer uma coisa que só faço uma vez por ano. Até amanhã...

Um mundo em mudança




Incerteza, parece ser a palavra-chave por estes dias. Dúvida, também se aplica com frequência.
Durante anos e anos - desde o fim da segunda guerra mundial, para sermos mais concretos - a vida do mundo assentou, ainda que com um ou outro episódio pontual, numa aparente estabilidade financeira que convenceu tudo e todos que a vida era sempre igual. Corriam-se riscos calculados e para tudo, praticamente tudo, havia rede. Aliviado o stress traumático do pós guerra, reconstruídas que foram as principais economias, fez-se questão de crescer numa prosperidade que conduzisse ao reinado do supérfluo permitindo, quer se pudesse almeja-lo ou não, que todos lhe tivessem acesso. Assim se alimentou uma boa parte do mundo, a balões de soro e transfusões de sangue, até a estes dias.
Há 60 anos atrás, uma boa parte das pessoas que conhecemos - falo dos meus pais, por exemplo - apesar das dificuldades que tinha de superar no seu dia a dia, num país onde não abundava riqueza mas, em compensação, muita pobreza de espírito, tinha como metas de vida um emprego - facilmente garantido e estável - um casamento e um ou dois filhos. De degrau em degrau, na cadência dos que lhe haviam sucedido, esta escada da vida era subida, sem grandes percalços. Vieram depois as casas próprias - ou melhor, hipotecadas ao banco e á ilusão de que por isso se tornavam nossas - e os carros, que rapidamente deixaram de se sentir necessários em segunda mão. Logo a seguir as viagens, as férias no estrangeiro, os móveis renovados, os eletrodomésticos e gadgets de última geração. Não fosse o pequeno pormenor de meio mundo não ganhar efetivamente para pagar tudo isto e viver sustentado pelo recurso ao crédito, rigorosamente nada disto teria algum mal. Antes pelo contrário. Mas não é essa a conclusão da história e o resultado está á vista. Os riscos não foram calculados e, menos ainda, acautelados. Como diz o ditado em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Atrevo-me a dizer que pão até há, e manteiga ainda não falta. Pode faltar o queijo ou o fiambre, mas á fome só morrem os que já morriam e aparentemente, até agora, ninguém se preocupava muito...
A histeria da incerteza não tem efetivamente a ver com fome ou pobreza iminente. Tem a ver com perda de uma estabilidade que apenas para uma exceção era - e continua a ser - real e não aparente. O desnorte a que se assiste vem do facto de a vida se estar nas tintas para a nossa necessidade de segurança, aos mesmo lugares, ás mesmas pessoas, aos mesmos confortos, aos mesmos empregos. Mas está agora, como estava antes. A única diferença é que os bancos incentivavam e pagavam as ilusões e agora, antes que lhes falte o caviar para por nas tostas, fecharam a torneira com o argumento de que secou a fonte.
Ainda no outro dia o disse por aqui e não me canso de o dizer, embora muita gente discorde da minha opinião. A geração dos nossos filhos vai ter um futuro muito mais fácil. Mais leve, porque mais verdadeiro e ajustado á realidade. E em nada considero que isso comprometa os seus e os nossos sonhos. Antes pelo contrário. A grande diferença, talvez a grande conquista dos tempos que atravessamos em relação aos seus, será a noção de risco. Enquanto nos ensinaram que quase nada tinha risco, porque havia sempre uma rede ou mão por baixo, eles serão incontornavelmente levados a tê-lo por adquirido, a assumi-lo e a calculá-lo. Vai ser uma vida muito mais desafiante, é verdade. Mas muito mais genuína, também. Agora que deixamos de nos embalar com contos de fadas e que já sabemos que os empregos, os ordenados, os lugares cativos - no espaço e nas vidas de outras pessoas - não são para sempre, que rigorosamente tudo o que começa também acaba e, sobretudo, que nesse ciclo há coisas que não dependem inteiramente de nós, vamos escolher uma vida mais improvisada o que não implica necessariamente que se torne provisória. O para sempre será a capacidade de adaptação ás circunstâncias e não a imutabilidade de um estado ou condição.
Seremos mais capazes de enfrentar as incertezas, as dúvidas, as mudanças, porque muito mais capazes de ser quem genuinamente somos e não quem aparentamos. Seremos capazes de errar e ter muito menos medo disso. Em tudo, creio.

Como diria Eduardo Sá, o futuro aceita pessoas imperfeitas.
Finalmente, diria eu!